Rosie Alves - “Uma Trégua” [Crónica]

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Tranco a porta, ligo o rádio no máximo e oiço tocar a minha música preferida da Sade “The Moon and The Sky”. Sento-me na janela, acendo um cigarro e vejo o movimento dos carros 5 andares abaixo.
Esqueço que atrás da porta tem um mundo de merda, que me amarga só de pensar.
Começo a relaxar, sinto a nicotina a agir sobre meu corpo, sinto-me segura e em paz, começo a excluir todas as dores e pensamentos que me afligem, agora consigo até sentir o barulho pesado da minha respiração.
Lá em baixo, os carros passam no ritmo que o meu sangue corre nas veias.
Agora me sinto em sintonia com o ambiente. Oiço alguém bater na porta, bem longe e distante. Não me permito arranjar forças para levantar e ir atender. Na verdade, eu tenho medo de quem seja.
Talvez seja a dor ou a tristeza, quem sabe até um pouco da felicidade.
Não, Não é ela. Ela não vem. Há tempos que ela não vem. Mas nunca se sabe?
Esqueço dos carros, o cigarro queima até os meus dedos, sinto-me angustiada, confusa. Observo que voltei para o mesmo lugar, com os mesmos problemas, as mesmas dores, as mesmas saudades, o mesmo vazio. Ah, o Vazio. Agora ele aumenta ainda mais. E eu ali, sentada, imóvel, a ser engolida por ele.


O barulho cala-se. "Desistiu" - pensei.
Sopro as cinzas, mato o cigarro e desço dali.
E não se passaram mais que quinze minutos.
Maldita vida atrás da porta para a qual tenho que voltar.

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